sexta-feira, 22 de agosto de 2008


É muito difícil falar como estou me sentindo... estou muito triste... muito mesmo...

Hoje o tio Tono pai da Flá nos deixou... foi para um lugar bem melhor e agora vai olhar por todos nós lá de cima... alegrar os anjos com sua conversa bacana e suas brincadeiras hilárias...

afinal o que é a morte???

Pra mim ela é só uma mudança de estado, uma viagem eterna... não sei... mas sei que deve ser bem bacana lá do outro lado... e nós só atravessamos essa passagem quando cumprimos nossa missão na terra... o tio cumpriu a dele... construiu uma família linda... teve filhos maravilhosos e um deles é minha melhor amiga... por isso estou tão triste... por me sentir tão impotente diante da tristeza dela... toda essa minha "filosofia" sobre a morte não surte efeito nenhum... a saudade o pavor de se perder alguém é maior que qualquer raciocínio... não tem o que falar... as palavras são incapazes de descrever e amenizar esse tipo de sofrimento... nem eu creio em mim nesse momento...

Quando eu soube meu chão caiu... eu fiquei tonta como se fosse desmaiar... eu sabia que algo estava errado... e sabia que não podia fazer nada... eu só queria abraçar minha amiga agora... dizer que ela não está só... mas eu não pude fazer isso... eu tô tão frustrada...

Isso me fez pensar e desde o dia que ela me disse que ele estava doente eu já estava pensando... qual o motivo dessa distância? será que vale mesmo a pena? temos poucas chances na vida e algumas são únicas... meu coração tá um caco... estou sentindo muito a partida dele... não tanto por ele, porque eu sei que foi em paz e que estava na sua hora... mas pela flá, por eu não poder fazer nada...

quando entrei no quarto pra contar pro Ni, aí que caiu a ficha... eu nem sei o que falei pra flá... e depois me peguei pensando nisso... era algo que sabíamos que ia acontecer, mas não queríamos que acontecesse... nunca se está preparado para essas coisas...

enquanto contava pra ele... comecei a me lembrar... e ri muito... muito... eu tremia, chorava e gaguejava, minha voz tava sumindo... já soluçava... mas ria muito... foram muitos momentos bacanas... ele cozinhava muito bem... o único capincho gostoso e cheiroso que comi na minha vida, foi o dele... e o arroz com galinha? o carreteiro... bah muito bom... lembro da vez que eu conheci ele... foi no dia do show do Nenhum de Nós em Uruguaiana... semanas de planejamento... muita empolgação...ingressos comprados há dias... muitos micos no dia... a Clá toda de amarelo com florido, aquele conjuntinho básico dela... se atravessou na frente do 1004 num sábado de tardinha... descemos e fomos combinando a roupa... quando dobramos a esquina a Flá enxerga o caminhão do tio... Tinha chegado de fora... bah... e quem disse que ele queria deixar a flá ir??? a tia chegou e disse pra nós que ela tava furioooso... me caguei toda, eu não conhecia ele... aí ele entrou no quarto e deu uma gargalhada e disse que tava brincando... mas ele me enganou direitinho... fiquei com medo da cara de mal que ele fez... heheh... e foram inúmeras vezes que nos encontramos depois... aí veio a primeira cirurgia... não foi nada pra ele... ficou ainda mais divertido... ele dizia que tinha uma nova profissão... Locutor de rádio... era de doer a barriga de tanto rir... a última vez que eu vi ele foi em janeiro... cheguei na porta do ateliê da tia e ele tava sentado... ele me olhou e eu comecei a abanar e sorrir pra ele... ele me olhou, olhou... e eu continuava abanando... até que ele não se aguentou e veio falar comigo:" por acaso eu te conheço?" eu disse: "sim, o senhor não se lembra de mim?" e ele respondeu: "Não mesmo... quem é vc?"eu disse: " sou a adalice amiga da Flá"... e ele abriu um sorrisão, levantou bem rápido e me deu um abração e disse: "Hortaliçaaaaa... mas que saudade minha filha"... é hortaliça... ele nunca aprendeu meu nome... eu deixei de corrigir lá no início... não adiantava... naquele dia ele me abraçou várias vezes... e repetiu inúmeras vezes que estava muito feliz... que sentia nossa falta... mas que sentia muito orgulhode nós e se sentia feliz... ficou me olhando com um sorriso bobo, sabe? ele olhava e eu acho que estava passando um filme na cabeça dele... lembrava da bagunça que nós fazíamos na casa dele nas nossas jantinhas... que sempre ele cozinhava claro... Nunca terei amigos como aqueles... nem noites como aquelas... nós éramos um time... sempre foi muito bom estar naquela casa... sempre me senti em casa com eles...

ele vai deixar muitas saudades aqui... nunca vou esquecê-lo... foi uma figura rara... única... eu vou amá-lo pra sempre...

Tio Tono...
vá com Deus... o senhor vai alegrar os anjos agora... O mundo ficou mais triste com sua partida... mas a nossa vida muito mais alegre, só pelo simples fato do senhor te existido e por termos tido a honra de conhecê-lo... eu me sinto assim...


Ada

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